Dois filmes sobre o amor pelo cinema – um no Sudão e outro na Coreia do Sul.
Lucky Chan-sil, dirigido pela sul-coreana Kim Cho-hee, acontece na intimidade de uma produtora de filmes a partir da relação da personagem-título com a criação cinematográfica: ela perde seu emprego como produtora após a morte do diretor com quem trabalhou durante anos e mais anos. É um amor ao cinema que passa pelo amor entre as pessoas, e que depende delas pra sobreviver. No final, é justamente quando reencontra seu lugar no mundo num relacionamento com amigas e amigos que Chan-sil consegue voltar a fazer filmes.
Talking about trees, de Suhaib Gasmelbari, acontece em outra dimensão: a coletiva. Desde já sabemos que é um filme sobre quem faz filmes, e a metalinguagem garante passagens às vezes muito bem-humoradas, às vezes bem tristes. O que fica é mesmo o amor de fazer o cinema, desamarrado de pessoas – o amor por fazer do jeito que dá, quando dá, onde dá. O trio que dirige filmes no Sudanese Film Group é o exemplo do que a palavra amador traz de mais belo: eles amam o que fazem, e o fazem porque amam. É um tipo de amor que inclusive abraça a prática revolucionária, seja histórica, como quando desafiaram os diversos golpes políticos no Sudão antes e depois de partir para o exílio, seja no tempo de agora, novamente desafiando o governo que baniu as salas de cinema do país.
São duas perspectivas que se complementam: se em Chan-sil temos reforçada a importância dos laços afetivos que regem a criação de filmes, em Talking about trees expandimos esses afetos para o próprio fazer cinematográfico – ainda que no caso sudanês também esteja presente, com muita força e importância, os mesmos laços entre as pessoas do filme sul-coreano.